
Todo santo dia passo por moradores de rua dormindo e sobrevivendo nas calçadas aqui em Porto Alegre. Dia de chuva aparecem mais, passo por eles na ida e na volta do colégio (ou do cursinho). Existe uma (frente de) garagem que é a ‘casa’ de um grupo deles, vivem lá 24h, às vezes com alguma comida, às vezes com algum cobertor, sempre com algo de alcoólico.
Há quem diga que há ONGs que se oferecem para levá-los a abrigos.
Há quem diga também que eles se recusam a ir aos abrigos por não poderem levar sua cachacinha junto deles. Que fossem levados a uma clínica de desintoxicação, então...
Mas o ponto não é esse.
Onde quero chegar é no fato de que eu, e aparentemente a maioria dos moradores daqui simplesmente não me importo realmente com essa realidade. Eu adoraria ajudar essa gente de forma que fosse resolver o problema (esmola não resolve nada)... Só que não tenho tempo nem estrutura para tal, então tiro esse "peso" de mim, acabo por agir como se entendesse que não é problema meu. Só que todos agem assim.
É uma falta de consideração, de valor humano, essas pessoas terminam sendo vistas como animais, como lixo.
E o porquê disso é que elas não representam nenhuma possibilidade de benefício a ninguém, exceto, é claro, àqueles que vendem canha e demais entorpecentes de forma absurdamente acessível.
Pergunto, essa gente que lucra com isso preferia ver esses seus clientes em bom estado de saúde e vida, de modo que não consumiriam tanto seus produtos? Capitalismo selvagem.
Acho que daí pode-se concluir que na nossa sociedade atual existem toques da crença na “Raça Superior” ainda hoje, inclusive na minha mente ou na tua que lê isto.
É um absurdo, e é preciso mudar. O lucro não pode ser mais importante que a saúde e integridade de todos.